domingo, 6 de setembro de 2015

SUTRA DOS VOTOS ORIGINAIS DO BODHISATTVA KSITIGARBHA

CAPÍTULO I – MANIFESTAÇÃO DE PODERES EXTRAORDINÁRIOS NO PALÁCIO DO CÉU TRAYASTRIMSA



Assim eu ouvi: Uma vez o Buda subiu ao Céu Trayastrimsa para ensinar o Dharma a sua mãe. Neste momento havia um indescritível número de Budas, como também grandes Bodhisattvas e Mahasattvas de infinitos mundos provenientes das Dez Direções: todos estavam reunidos para louvar as habilidades do Buda Shakyamuni, para manifestar a indescritível Grande Sabedoria e o poder sobrenatural no Nefasto Mundo das Cinco Corrupções, como também a habilidade de harmonizar e conquistar os seres viventes obstinados, para que possam conhecer os dharmas do sofrimento e da felicidade. Cada um destes Grandes Seres enviou seus assistentes para saudar o Lokayestha. Neste momento, o Tathagata sorriu e emitiu centenas de milhares de milhões de grandes nuvens de luzes, tais como: a Nuvem da Grande Luminosidade Perfeita, a Nuvem da Grande Compaixão, a Nuvem da Grande Sabedoria, a Nuvem da Grande Prajna, a Nuvem do Grande Samadhi, a Auspiciosa Grande Nuvem, a Nuvem da Grande Benção, a Nuvem do Grande Mérito, a Nuvem do Grande Refúgio e a Nuvem do Grande Louvor. Após haver emitido ainda mais indescritíveis nuvens de luz, o Buda também emitiu uma grande quantidade de maravilhosos sons sutis, tais como: o Som Danaparamita, o Som Silaparamita, o Som Kshantiparamita, o Som Viryaparamita, o Som Dhyanaparamita, o Som Prajnaparamita. O Som da Grande Compaixão, o Som do Jubiloso Dar, o Som da Libertação, o Som do Não-Apego, o Som da Sabedoria, o Som da Grande Sabedoria, o Som do Rugido do Leão, o Som do Rugido do Grande Leão, o Som das Nuvens de Trovão e o Som das Grandes Nuvens de Trovão. Após haver emitido esses indescritíveis sons, deuses, dragões, fantasmas e espíritos do Mundo Saha e outros reinos, se reuniram no Palácio do Céu Trayastrimsa. Vindos de lugares tais como: Céus dos Quatro Reis, Céu de Trayastrimsa, Céu Suyama, Céu Tusita, Céu de Transformação de Felicidade, Céu de Conforto Obtido Através da Transformação da Felicidade dos Outros. Do Céu de Multidões de Brahma, do Céu dos Ministros de Brahma, do Céu de Grande Brahma, do Céu de Luz Menor, do Céu de Luz Ilimitada, do Céu de Luz e Som, do Céu de Pureza Menor, do Céu de Pureza Ilimitada, do Céu de Pureza Universal. Do Céu de Nascimento das Bênçãos, do Céu das Bênçãos do Amor, do Céu do Fruto Abundante, do Céu do Não-pensamento, do Céu da Não-aflição, do Céu do Não-calor, do Céu das Boas Visões, do Céu das Boas Manifestações, do Céu da Forma Suprema, do Céu de Mahesvara e seguindo assim até o Céu do Lugar do Pensamento e do Não-Pensamento. Os deuses, dragões, fantasmas e espíritos se reuniram. A eles reuniram-se ainda: espíritos do mar, espíritos dos rios, espíritos dos riachos, espíritos das árvores, espíritos das montanhas, espíritos da terra, espíritos dos arroios e pântanos, espíritos dos brotos e das sementes, espíritos do dia, espíritos da noite, espíritos do espaço, espíritos do céu, espíritos da comida e da bebida, espíritos dos pastos e das madeiras e outros espíritos similares como os do Mundo Saha e outros mundos reunidos em assembléia. Além de todos os reis fantasmas do Mundo Saha e outros mundos, reunidos em assembléia estavam outros tais como: o Rei Fantasma do Olhar Perverso, o Rei Fantasma Vampiro, o Rei Fantasma que Chupa a Energia Vital, o Rei Fantasma que Chupa a Energia das Placentas, o Rei Fantasma que Espalha Doenças, o Rei Fantasma que Remove Venenos, o Rei Fantasma do Coração Bondoso, o Rei Fantasma das Bênçãos e Ganhos, o Rei Fantasma do Grande Amor, o Rei Fantasma do Grande Respeito além de outros. Neste momento o Buda Shakyamuni disse ao Bodhisattva Manjusri, Príncipe do Dharma: “Ao observar estes Budas, Bodhisattvas, deuses, dragões, fantasmas e espíritos deste e de outros mundos, que estão reunidos aqui no Céu Trayastrimsa, você pode calcular seu número?” Manjusri disse a Buda: “Lokayestha, ainda que pudesse contá-los e reconhecê-los com meus poderes espirituais durante milhares de kalpas, não seria capaz de calculá-lo”. Buda disse a Manjusri: “Ao observá-los com minha visão de Buda, seu número é interminável. Através de muitos kalpas todos estos seres tem atravessado, tem sido atravessados, estão sendo atravessados, serão atravessados, tem sido conduzidos à realização, estão sendo conduzidos à realização ou serão conduzidos à realização pelo Bodhisattva Ksitigarbha”. Manjusri disse a Buda: “Lokayestha, através de muitos kalpas cultivei boas raizes e atingi a Total Sabedoria sem restrições. Quando ouço a palavra de Buda, aceito-a imediatamente e com fé. Os que Escutam o Som (Shravakas), que ainda possuam escassos logros, deuses, dragões e os demais da Óctupla Divisão, como assim também outros seres viventes que no futuro possam escutar as sinceras e verdadeiras palavras do Tathagata, possivelmente sentirão dúvidas e embora possam receber os ensinamentos da maneira mais respeitosa, não poderão evitar caluniá-los. Lokayestha, por favor, queira explicar-nos qual foi a conduta do Bodhisattva Mahasattva Ksitigarbha enquanto ele esteve na Etapa da Causalidade e conta a respeito dos Votos que ele fez para realizar tal inconcebível tarefa”. Buda disse a Manjusri: “Fazendo uma comparação, é como se todos os pastos, árvores, bosques, cânhamos, bambus, canas, montanhas, rochas e partículas de pó no sistema do mundo de um milhão de mundos fossem enumerados e cada um convertido em um rio Ganges, enquanto que dentro de cada rio Ganges cada grão de areia se transformasse em um mundo, e dentro desse mundo cada partícula de pó fosse um kalpa, enquanto que dentro desses kalpas as partículas de pó se acumulassem e por sua vez se transformassem em mais kalpas. Aumente esse tempo mil vezes e você saberá quanto tempo o Bodhisattva Ksitigarbha permaneceu no Décimo Estágio. Muito maior foi sua permanência nos estágios de Quem Escuta o Som e no estágio de Pratyekabudha. O espírito temerosamente respeitado e os Votos deste Bodhisattva estão além de nossa compreensão. Se no futuro bons homens e boas mulheres escutarem o nome deste Bodhisattva e o louvarem, venerarem, fazendo-lhe oferendas; ou se desenharem, esculpirem ou pintarem sua imagem, estes nascerão cem vezes no Céu dos Trinta e Três e nunca mais cairão nos Caminhos Nefastos. “Manjusri: uma quantidade indescritível de kalpas atrás, no mundo e na época do Buda chamado Tathagata Leão de Grande Velocidade nas Dez Mil Práticas, o Bodhisattva Ksitigarbha era filho de um sábio ancião”. Vendo o Buda adornado de mil bênçãos, o filho do sábio ancião perguntou quais práticas e Votos lhe permitiam conseguir tal aparência. O Tathagata disse: ‘Se você deseja conseguir um corpo perfeito, ao longo dos kalpas deverá libertar os seres viventes que estão passando por sofrimentos’. “Então Manjusri, Ksitigarbha o filho do sábio ancião, fez este Voto: ‘Eu agora através de incomensuráveis kalpas até os confins do futuro vou estabelecer muitos recursos convenientes pelo bem dos seres que sofrem e dos criminais nos Seis Caminhos. Quando todos tiverem sido libertados, eu mesmo me aperfeiçoarei no caminho de Buda”. “Desde o tempo em que fez este Voto na presença daquele Buda até o presente, uma indescritível quantidade de nayutas de kalpas se passou e ele continua sendo um Bodhisattva. Além disso, há impensáveis asamkhyeya kalpas havia um Buda chamado Tathagata Rei Auto-suficiente do Samadhi da Flor Iluminada. A vida deste Buda foi de quatrocentos milhões de asamkhyeya kalpas”. “Durante a Era da Aparência do Dharma, havia uma mulher brâmane que tinha muitos méritos acumulados em vidas passadas e era respeitada por todos. Quando caminhava, ficava em pé, estava sentada ou deitada, sempre era rodeada e protegida por deuses. Sua mãe, porém, tinha crenças impróprias e frequentemente, desdenhava a Tríplice Jóia. Aquela sábia mulher elaborou muitos planos hábeis para induzir sua mãe a adquirir a visão correta, porém a mãe não acreditava nela totalmente. Não se passou muito tempo para que a vida de sua mãe terminasse e seu espírito caísse no inferno ininterrupto”. “Sabendo que quando sua mãe estava no mundo não tinha acreditado na lei de causa e efeito, a mulher brâmane deu-se conta de que, de acordo com seu karma, sua mãe renasceria nos estados de desgraça. Então ela vendeu a casa da família, comprou incenso, flores e outros elementos e fez uma grande oferenda no templo de Buda. Quando viu a imponente e majestosa imagem do Tathagata Rei Auto-suficiente do Samadhi da Flor Iluminada, ela sentiu um respeito duplamente maior. Enquanto a mulher brâmane contemplava a venerável imagem, ela pensava: ‘Os Budas também são chamados Aqueles Grandiosamente Iluminados, Completos, com Total Sabedoria. Se o Buda estivesse neste mundo e eu pudesse perguntar-lhe, Ele seguramente me diria para onde foi minha mãe depois de morta’. “A mulher brâmane chorou por um longo tempo com a sua cabeça abaixada e seu olhar fixo no Tathagatha. De repente uma voz se ouviu no espaço, dizendo: ‘Oh mulher sagrada que chora, não fique tão triste, eu mostrarei para onde foi sua mãe’. A mulher brâmane juntou as palmas e perguntou: “Que divindade é esta que vem aliviar minhas preocupações? Desde o dia em que perdi minha mãe até agora eu a tenho mantido na minha memória, dia e noite, mas não tenho encontrado nenhum lugar em que eu possa perguntar sobre a região do seu renascimento’. “Uma voz foi ouvida respondendo assim para a sagrada mulher: ‘Eu sou Aquele a quem você venera e adora o passado Tathagata Rei Auto-suficiente do Samadhi da Flor Iluminada. Como vi que sua preocupação com sua mãe é muito maior do que a dos seres viventes comuns, agora vou mostrar-lhe o lugar de seu renascimento’. “Quando escutou esta voz, a mulher brâmane saltou repentinamente e caiu, ferindo-se gravemente. Aqueles que estavam perto dela ajudaram-na, e após ter sido revivida por algum tempo, ela falou ao espaço e disse: ‘Por favor, tenha piedade de mim e diga-me depressa o lugar de renascimento de minha mãe, pois minha própria morte está próxima’. “O Tathagata Rei Auto-suficiente do Samadhi da Flor Iluminada disse à santa mulher: ‘Após haver completado suas oferendas, volte para casa depressa. Sente-se ereta, pensando em meu nome, e saberá com certeza o lugar de renascimento de sua mãe’. Quando a mulher brâmane terminou de adorar o Buda, ela voltou para casa, pensando em sua mãe, sentou-se ereta, invocando o Tathagata Rei Auto-suficiente do Samadhi da Flor Iluminada”. “Após um dia e uma noite, ela se viu repentinamente à beira de um mar. As águas ferviam e borbulhavam. Muitos monstros horríveis com corpos de metal voavam sobre o mar em todas as direções. Ela viu centenas de milhares de milhões de homens e mulheres sofrendo e afundando na água, sendo feridos e devorados pelos monstros. Ela também contemplou yakshas, cada uma com uma forma diferente, algumas com muitas mãos, muitos olhos, muitas pernas, muitas cabeças. De suas bocas saíam dentes afiados em forma de espadas. Algumas yakshas capturavam os delinqüentes e torciam suas cabeças e seus pés. Um número enorme de formas horripilantes, que ninguém se atrevia a contemplar”. “Durante este tempo a mulher brâmane manteve-se calma e sem medo, graças ao poder proveniente do pensamento no Buda. Um Rei Fantasma chamado O Sem Veneno fez uma reverência, aproximou-se da mulher santa e disse: “Muito bem, Bodhisattva, por que veio até aqui?” “A mulher brâmane perguntou ao Rei fantasma: ‘Que lugar é este? ’ “O Sem Veneno respondeu: ‘Este é o primeiro mar do lado ocidental da Grande Montanha do Anel de Aço’. “A santa mulher perguntou: ‘Ouvi dizer que o inferno se encontra dentro do anel de aço. É este o lugar? ’ “O Sem Veneno respondeu: ‘O inferno é aqui mesmo’. “A santa mulher perguntou: ‘Como foi que eu vim parar no inferno? ’ “O Sem Veneno respondeu: ‘Ninguém pode vir até aqui, a menos que tenha um espírito prodigioso ou o karma requerido’. “A santa mulher perguntou: ‘Por que está fervendo a água e por que há tantos criminosos e monstros perversos? ’” “O Sem Veneno respondeu: ‘Estes são seres de Jambudvipa mortos há pouco tempo que durante quarenta e nove dias não tiveram parentes para realizar ações meritórias em seu favor e resgatá-los das dificuldades; durante suas vidas não semearam nenhuma causa nobre. De acordo com os atos de cada um deles surgem os infernos e eles devem passar por este mar. Dez mil yojanas a leste deste mar encontra-se outro mar, com o dobro dos sofrimentos deste. A leste deste outro mar há mais outro mar, onde os sofrimentos são duplicados novamente. O que as causas perversas combinadas dos três veículos kármicos evocam é chamado Mar do Karma. Este é o lugar’. “A santa mulher perguntou novamente ao Rei Fantasma Sem Veneno: ‘Onde fica o inferno? ’ “O Sem Veneno respondeu: ‘Dentro dos três mares há centenas de milhares de grandes infernos, cada um diferente do outro. Conhecidos como grandes infernos, há dezoito. Em seguida há quinhentos, com ilimitados e cruéis sofrimentos. Além deles, há mais de cem mil com sofrimentos sem limites’. “A santa mulher novamente falou ao Rei Fantasma: ‘Minha mãe morreu recentemente e eu não sei que caminho ela tomou’. “O Rei Fantasma perguntou à santa mulher: ‘Bodhisattva, quando sua mãe estava com vida, quais eram seus atos habituais? ’ A santa mulher respondeu: ‘Minha mãe tinha idéias erradas, insultava a Tripla Jóia. Às vezes acreditava, mas não por muito tempo. Morreu há poucos dias, mas não sei onde renasceu’. “O Sem Veneno perguntou: ‘Bodhisattva, qual era o nome de sua mãe? ’ “A santa mulher respondeu: ‘Meu pai e minha mãe eram brâmanes, meu pai se chamava Shan Chien e minha mãe se chamava Yueh Ti Li’. “O Sem Veneno uniu as mãos e disse à Bodhisattva: ‘Por favor, ser sagrado, volte a seu lugar de origem. Não fique preocupada ou triste. Yueh Ti Li, a mulher com karma pesado, nasceu nos céus três dias atrás. Dizem que teve êxito graças a uma filha que fez oferendas e cultivou méritos em seu nome no templo do Tathagata Rei Auto-suficiente do Samadhi da Flor Iluminada. Não somente a mãe do Bodhisattva foi aliviada do inferno, mas como resultado de tais méritos, outros detratores que mereciam ininterrupta punição também receberam a felicidade e renasceram’. O Rei Fantasma terminou de falar e retrocedeu respeitosamente. A mulher brâmane voltou a si como se despertasse de um sonho. Entendeu o que tinha acontecido e realizou no templo um profundo Voto diante da imagem do Tathagata Rei Auto-sufuciente do Samadhi da Flor iluminada, dizendo: ‘Eu faço Votos de estabelecer muitos recursos adequados para ajudar os seres viventes que estão sofrendo por seus crimes. Até o final dos futuros kalpas eu vou fazer com que esses seres obtenham a libertação’. “Buda disse a Manjusri: ‘O Rei Fantasma Sem Veneno é o atual Bodhisattva regente da abundância. A mulher brâmane é agora o Bodhisattva Ksitigarbha’”.

source:http://www.dharmatranslation.org/pdf/SutraKsitigarbha_portugues.pdf